domingo, 8 de fevereiro de 2009

Cortázar e a Rayuela

"Acredito que Jogo da Amarelinha é um livro muito argentino. Afinal de contas, uma das características dos argentinos é a sua falta de certeza e de bases culturais, e isso se deve ao fato de sermos o resultado de uma mistura.
Quando você fala com um francês médio, percebe que ele é absolutamente seguro de si mesmo. Tem às suas costas vovô Pascal, vovô Descartes, vovô Montaigne. Para este francês tudo parece estar resolvido, o que não é o caso dos argentinos e dos uruguaios.
E aquilo que é, aparentemente, uma desvantagem para argentinos e uruguaios, torna-se, no caso de Amarelinha, uma arma positiva: usar essa falta de continuidade, de certeza cultural, para procurar se mover em novos territórios. Nós temos a necessidade e a possibilidade de explorar.
É isso que os críticos europeus mais inteligentes estão vendo naquilo que todos nós escrevemos. Eles ficam muito espantados com a nossa atitude iconoclasta, com o fato de tirarmos as coisas dos limites, de inventarmos.
Um francês tem muita dificuldade de inventar. Uma nova experiência na França é um parto difícil. Na Argentina, quando se tem talento não é muito difícil andar por caminhos novos: veja como Borges se soltou em seu caminho, e Macedonio Fernández e, entre vocês, Felisberto Hernández, Juan Carlos Onetti... "

Fonte: Bermejo, Ernesto González Conversas Com Cortázar Ed. Jorge Zahar RJ p.56/7

Nenhum comentário: